quinta-feira, 31 de maio de 2012

Vai Vadiar !!

No famoso Aurélio, “vadiar” nada mais é do que “vaguear, levar a vida de vadio; vagabundear”. Um sujeito vadio, no mesmo dicionario, é “aquele que não faz nada; ocioso” ou ainda “um aluno pouco estudioso”. E vadia? Essa eu não encontrei no Aurélio, mas em um dicionario informal da web, o termo vadia é “geralmente utilizado para referenciar alguma mulher biscate, que gosta de chamar a atenção dos machos.” E talvez por essa denominação popular é que se tenha criado tanta polemica em torno da Marcha das Vadias, que se iniciou no Canadá em 2011, após um policial afirmar que, se as mulheres não quisessem ser estupradas, não deveriam se vestir como “vadias”. Desde então, a marcha se espalhou pelo mundo e enfim chegou a Aracaju.

Será que uma mulher com roupas mais curtas teria menos direitos do que uma supostamente mais “composta”? Uma mulher pode ser violentada por levar uma vida supostamente 'vadia'? E o que é ser vadia, nos dias de hoje? Mesmo com tantos casos de violência sofridos por mulheres dentro e fora de casa, é possível que ainda exista uma distinção entre mulheres de “casa” e da “rua”?

Contrariando esse tipo de argumento falso-moralista, uma das palavras de ordem na maioria das Marchas das Vadias é “Minha roupa não é convite”. Apesar da inspiração ter nascido no Canadá, aqui no Brasil temos um terrível histórico de violência contra mulheres e sua suposta 'vadiagem'. Quem não se lembra do caso Geisy Arruda, a estudante que foi obrigada a sair da faculdade escoltada pela policia? O crime: usar um vestido curto. Outro caso público, mais chocante ainda, aconteceu há menos tempo, em Queimadas- PB , onde 6 mulheres foram estupradas (duas delas mortas), sendo que os estupros seriam “presentes de aniversário” de um irmão para outro.
Mas a violência contra a mulher não pode ser considerada apenas no seu aspecto físico, mas também no lado psicológico. Em matéria para a revista TPM (Trip para Mulheres) de julho do ano passado, a publicitária Viviane Favery, 25 anos, dizia: “Acho invasivo aquele olhar de cão faminto que os homens dirigem a você. Não sou uma amostra grátis” .
Aceitar com normalidade a violência, seja ela verbal, psicológica ou física para com uma mulher, porque supostamente ela “deu condições”, é algo que deve ser repensado. “Quando alguém fala em estupro, a primeira coisa que se pergunta é: ‘Mas o que ela estava vestindo, onde ela estava, que horas eram?” dizia Lola Aronovich na mesma edição da TPM. É disso que trata a Marcha das Vadias – da reafirmação do direito das mulheres em serem livres sem que isso lhe traga julgamentos ou violências. O nome choca? Sim, mas a violência contra a mulher deveria chocar muito mais.
Estamos num momento em que se torna cada vez mais difícil aceitar qualquer tipo de abuso ou machismo. Superar certos comportamentos, vistos como naturais, estão na pauta do dia. A marcha por si só não vai transformar a sociedade, mas já vem estimulando um debate sobre o assunto, movimentando as mídias sociais, as conversas nas faculdades. Isso já é um passo significativo para mudanças reais.
Por isso, nesta sexta, dia 1º, mulheres de todas as idades (e também os homens conscientes de seu papel nessa luta) estarão marchando, vadiando pelas ruas de Aracaju. Mostrando que se ser vadia é ser livre, somos todas vadias.
O que : Marcha das Vadias – Aracaju /SE
Onde: Praça da Catedral as 14h
Quando: 01/06 ( Sexta-feira)


                                       
Latuff deixando sua contribuição para a Marcha das Vadias Aracaju



cartazes produzidos pela Marcha das Vadias de Brasilia e que fizeram sucesso nas redes sociais 





Vídeo produzido pela Marcha das Vadias- DF

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